511LyfwPPkL__SL160_PIsitb-sticker-arrow-dp,TopRight,12,-18_SH30_OU01_AA160_“A punição de um assassinato nunca foi um grande impedimento, e nunca ofereceu conforto à vitima já morta.” – Philip Dick

Não se pode comparar Philip K. Dick com nenhum outro escritor de ficção científica – talvez com um escritor de outro gênero: Kafka.

Todos os seus heróis são homens comuns, lutando com transformações impossíveis, sociedades distópicas e disfuncionais – mas, também, com aluguéis atrazados, contas para pagar, burocracia, publicidade e divórcios.

Quase todos os mundos que ele cria, são distopias no futuro.  Ou, um futuro que nos mostra um presente tão nosso conhecido que ele consegue nos convencer de que a distopia é hoje; o apocalipse já acontece.  Tudo que o leitor tem de fazer é retirar o véu da ilusão.

Em suas estórias, é fácil ver significados muito mais profundos do que aparentam os escritos.  É interessante, discernir o que é ou não é real.

Enfim, tudo que ele escreve vale a pena ser lido.

Entre os contos, deste livro, está Recall Mechanism / Podemos recordar para você, por um preço razoável – que originou o filme O Vingador do Futuro / Total Recall – Incoerências temporais / pequenos erros na visão de futuro de Philip Dick: “Quando chegou em seu miniapto, Quail sentou-se diante de sua Hermes Rocket portátil, enquanto vasculhava a gaveta em busca de papel-carbono.

minority_reportMuitos leitores vão se interessar pelo livro de contos, por conta do filme Minority Report/A nova lei, filme de Steven Spielberg, de 2002, estrelado por Tom Cruise.

imagesCATDEORJMas aconselho a ler outros livros do autor, como Do androids dream of electric sheep? (que originou o filme Blade Runner – resenha no blog: https://scifinowlilimachado.wordpress.com/2012/03/24/o-cacador-de-androides-do-androids-dream-of-electric-sheep-phillip-dick/ ), para poder entrar de forma completa no mundo do escritor; para saber de suas idéias e de onde eles surgem – os contos não dão essa dimensão – os romances, sim.

A estória de Minority Report, de 1956, é sobre uma sociedade no futuro, onde os assassinatos são evitados, através dos esforços de 3 mutantes que podem ver o futuro.

É, tenho de concordar com Phillip Dick: “A punição de um assassinato nunca foi um grande impedimento, e nunca ofereceu conforto à vitima já morta.”  Porém, o sistema punitivo profilático funciona – tendo sido informado de que cometeria um assassinato, a pessoa mudaria de idéia e não o cometeria. A antevisão do assassinato cancelaria o crime.

Paradoxos do tempo e realidades alternativas são criados pela préciência de crimes, quando a polícia recebe avisos de que um assassinato está para acontecer.

E, no caso, de nosso herói, o Comissário de polícia John Anderton, o próprio criador do sistema préciência, o assassino será ele.

O assassinado? – um homem que ele não conhece.

A estória toca no perigo de um governo militar pós-guera, em tempos de paz.  E questiona a existência do livre-arbítrio.

Os mutantes são pessoas com poderes de identificar futuros criminosos, 2 semanas antes que os crimes aconteçam.

Eternamente sentados numa sala escura, presos por algemas e fios, em cadeiras de metal, falam coisas aparentemente incoerentes, que são traduzidas por um computador, em forma de símbolos, e transcritas para cartões perfurados (cartões perfurados???), que produzem os avisos para a polícia e para o exército, ao mesmo tempo, de forma a se prevenir corrupção.

Suas necessidades físicas são todas resolvidas pelas máquinas – mas nada se fala de suas necessidades espirituais.

São pessoas que foram diagnosticadas como retardados mentais – deformados, com cabeças enormes, e não se relacionam com o mundo externo.

Mas Anderton sabe que nunca cometeria um crime – provando, então, que os mutantes também erram.

Anderton entra em fuga para provar sua inocência; e em busca de um dos mutantes, que representa a informação discordante dos outros dois – o minority report do título da estória – que lhe irá oferecer um futuro alternativo, ou múltiplos futuros.

Cada um dos mutantes gera suas próprias predições – uma pode ser diferente das outras duas (majority reports) – então, não se pode confiar cegamente nesta predição.

Na verdade, ele tem de provar que seu próprio sistema Précrime, é falho.

O sistema Précrime, criado 30 anos antes dos acontecimentos, é um sistema que trocou de lugar com o sistema jurídico tradicional, com uma percentagem de 99% de sucesso.

É baseado na noção de que, se um futuro não agrada, outro futuro alternativo mehor, pode ser criado.

Diferenças entre o conto e o filme:

  • No conto, Anderton tem 50 anos; no filme, tem 30.
  • Sua mulher, no conto, chama-se Lisa; no filme, Lara.
  • Os mutantes, no conto, são Mike, Donna e Jerry (retardados mentais); no livro, Agatha, Dashiell e Arthur (altamente inteligentes) – em homenagem a Agatha Christie, Dashiell Hammett e Arthur Conan Doyle.  No fim do filme, eles se refugiam numa propriedade rural, onde vivem felizes e em paz, entre pilhas de livros.
  • No conto, os mutantes podem ver qualquer tipo de crime; no filme, somente assassinatos.
  • No conto, a provável vítima de Anderton é o General Leopold Kaplan, que deseja desacreditar o sistema Precrime, para conseguir mais dinheiro para o exército; no filme, Anderton deve matar um homem chamado Leo Crow – mas descobre que Crow, na verdade, era uma fachada para acobertar os crimes cometidos por seu próprio chefe, Lamar Burgess, há anos atrás.
  • No conto, Anderton procura pelos mutantes, para descobrir o minority report; no filme, Anderton rapta um dos mutantes, para extrair mais informações.
  • O conto termina com Anderton e Lisa exilados para uma colônia espacial, depois da morte de Kaplan; o filme termina com John e Lara, unidos depois da solução do problema, e ela está grávida – um final hollywoodiano.

Trailer legendado do filme baseado no livro:

Sobre Lili Machado

Lilia Cristina Machado é carioca, aquariana, leitora voraz, estudante do conhecimento humano, especialmente dos ramos do imaginário, formada em Inglês por Cambridge, graduada em História, pós-graduada em Arte e Cultura, atualmente cursando Turismo.

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